segunda-feira, 25 de junho de 2012

Tentativa para a Dulce

"Era uma chave verde. Abria jardins inesperados, mas só nas mãos do senhor Afonso.
O senhor Afonso trazia sempre a chave consigo. De repente, no meio da confusão das ruas, ou quando precisava de sossego para pensar, o senhor Afonso sacava da chave e desaparecia.
Lá na empresa onde trabalhava diziam que ele era  um tipo muito estranho.
- Onde está o Afonso?
- Não faço ideia. Ainda agora estava aqui a falar comigo...
Poucos minutos depois, o tempo talvez de ir à casa de banho ou chegar à janela a ver se havia nuvens no céu, o senhor Afonso reaparecia.
- Onde estiveste?
- Ah, fui só ali dormir uma sesta na risca amarela do arco-íris.
Estas respostas não ajudavam nada.
Mas havia um menino de coração perfumado de violetas em flor que às vezes o senhor Afonso levava consigo. Passava pela casa onde o garoto vivia com a avó..."


e levava-o a dar uma volta por entre os prados fofos e verdes,matizados de margaridas,onde descansavam de papo para o ar,a admirar o voo da passarada que riscava o céu.


 E naquela dourada espuma dos dias que se  sucede sem parar o menino crescia e ia perdendo o coração perfumado de violetas, mas guardava a chave dos jardins inesperados,que lhe fora confiada pelo senhor Afonso e sempre que a lufa lufa lhe permitia um espacinho vago, lá estava ele a abrir a porta e ia com o senhor Afonso, já velhinho,  refrescarem-se na risca azul do arco íris,aquela mesma que tinha cheiro de iodo e sabor de mar.