sexta-feira, 4 de abril de 2008


Fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alva da tormentosa vida,
ergueu-se,no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,do sol,
que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.
Egdar A. Poe
Pintura:Caravaggio

2 comentários:

Maria-Portugal disse...

O Edgar,desafortunadamente, não viveu a Boa Nova que o S.Jerónimo,da pintura,tão afincadamente lhe proporcionou vertendo-a para a lingua latina,em anos de trabalho intenso na gruta de Belém.

Alma Rebelde disse...

Quem sabe se não a viveu, mesmo apesar do seus poemas destacarem sempre o outro lado escuro.
A alma tem muitos caminhos enigmáticos...