Raro é o(a) jovem ,que sabe o que é um sacrificío, pós 25 de Abril.
Tive o previlégio de nascer antes e vivenciar experiências antes e depois.
Já sabem que fui educacionada num colégio externo da Casa Pia, e como tal tinha regras bastante severas e duras.
Na altura quando o frequentava,vivia em Lisboa perto do Tivoli.
De manhã cedo apanhava o 9-A , autocarro para Campo de Ourique que passava no Largo do Rato,onde descia.
Na portaria estava uma irmã, nós alunas permaneciamos no colégio até às 18 horas. Para além das aulas,auxiliávamos no refeitório lavando a loiça e arrumando o refeitório.Antes de sair a sala de aula era limpa por nós.As irmãs estavam em sectores privados,onde nunca tínhamos acesso.
De regresso a casa ,vinha a pé,porque era sempre a descer.
No colégio existiam umas máquinas,muito tentadoras,uma com amendoins,outra com "almofadinhas" que eram rebuçados muito gulosos...rs
A minha madrinha mandava sempre o segundo pequeno almoço para meio da manhã,pão caseiro com marmelada ou queijo,mas eu dava sempre a uma colega que estava esfomeada.Graças a Deus nunca tive fome, mesmo que esteja 3 0u 4 dias sem comer,não me faz diferença alguma.
Mas nunca lhe dizia nada,com medo que ela não me desse mais.Assim ía alimentando quem tinha fome.
O que ficava atravessado na garganta eram as tais guloseimas ,para aí é que saltavam os olhinhos,mas como arranjar dinheiro,se a a minha madrinha era uma ferrenha nas finanças,nunca tinha dinheiro comigo!!!..:).
Então esta ,cabecinha pensadora, teve a seguinte idiotice:
-Que tal em vez de apanhar o autocarro ,ía a pé até ao colégio e ficava com os 2$50 do bilhete para as guloseimas?
Melhor pensado,melhor feito....as tais ditas guloseimas de cada tirada custavam apenas 0$50.O que dava para encher os bolsos...era cá uma farturinha...risos
Mas a esperteza durou pouco tempo...rsrs
Passado uns tempos,um dia,depois de ela chegar a casa,chama-me até ao quarto dela,quando lá chamavaera porque havia caldo entornado.
Depois de interrogatório apertado,não podia aldrabar,porque as provas eram evidentes.
Nós, colegiais usávamos umas batas azuis escuras e, então ,quando metia nos bolsos os amendoins, ficava lá as peles destes,mas não só.Esquecia-me que havia colegas dela que moravam perto de nós e me viam a subir a Avenida da Liberdade,feita foguete e depois a Rua Alexandre Herculano. Aí é que comecei a ser fora-da-lei...rsrsr.
Depois do entendimento,lá vinham as explicações de tais actos.
Estes episódios só para retratar, que naqueles tempos, nós pré-adolescentes,nessa altura com 14 ou 15 anos,não era o que nós queríamos ,era o que tinha de ser, e conforme a possibilidade dos educandos,muito contrário aos tempos actuais.
Hoje, quando por vezes vou até ao bar a meio da manhã, na escola,nem que seja para conversar só um pouco e, vejo alunos(as) com notas de 20 euros,se for possível todos os dias,tenho que ficar banzada.
De quem é culpa?....Quando pergunto a um aluno se ele sabe o que é um sacrifício, ele ri-se na minha cara, e diz logo apressadamente.
-Ai se os meus pais não me dão o que eu quero!....
Muitos e mais exemplos poderia dar, com a má educação e a falta de amor que é dada aos filhos.
Rui, ainda na sequência do post anterior, não gosto de ser pessimista,mas posso garantir-te , que quem tenha crianças pequenas, o horizonte está bastante negro ,possívelmente irão saber o que é outra vez o que é um sacrifício, a falta de condições para estudar , a falta de condições para sobreviveram,peço a Deus que não,mas o mais provável pelo andar da carruagem é que dias negros voltem assombrar muita gente,porque deram lugar ao TER em vez do SER.
1 comentário:
Gostei de te ler, Aurora e concordo com muito do que dizes. Eu era uma pastilha elástica por semana, quando andava no liceu... Quando andei no Porto a estudar, cinema?, cafés? guloseimas??? Cmia na cantina ou cozinhava, o dinheiro era contadinho. E viva o velho...
Abraços fraternos
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